Você já ouviu falar em pré-eclâmpsia? Apesar de parecer algo distante, ela é uma condição que exige atenção na gravidez por envolver pressão arterial alta e possíveis danos a órgãos. Se não for acompanhada de perto, a pré-eclâmpsia pode evoluir para quadros mais graves, colocando em risco a saúde da mãe e do bebê.
Neste artigo, vamos explicar de maneira simples por que o rastreamento precoce no primeiro trimestre, unindo exames de sangue e ultrassom morfológico de primeiro trimestre, é tão relevante.
O que é pré-eclâmpsia e por que se preocupar?
A pré-eclâmpsia costuma surgir após 20 semanas de gestação e se manifesta com pressão alta em quem antes não tinha esse problema, associada a sinais de comprometimento em diferentes sistemas do corpo.
Esse quadro pode complicar de várias maneiras, como restrição de crescimento do bebê ou parto prematuro. Mulheres que têm histórico familiar de hipertensão, diabetes ou doenças autoimunes são consideradas com maior probabilidade de desenvolvê-la, assim como primigestas (mulheres grávidas pela primeira vez), mas qualquer gestante pode ser afetada.
Em muitos casos, a pré-eclâmpsia surge sem aviso claro. Por isso, o pré-natal é fundamental para rastrear possíveis alterações. Quanto mais cedo forem identificados sinais de risco, maior a chance de evitar complicações graves.
A importância do rastreamento no primeiro trimestre
Talvez você se pergunte: “Por que fazer esse rastreamento tão cedo, se a doença surge mais tarde?” Acontece que os sinais da pré-eclâmpsia podem estar presentes desde as primeiras semanas de gravidez, especialmente ligadas ao desenvolvimento da placenta. Quando avaliamos a mãe ainda no primeiro trimestre, temos como estimar esse risco e já tomar medidas preventivas.
Esse rastreamento faz parte do ultrassom morfológico de primeiro trimestre, geralmente realizado entre 11 semanas e 3 dias e 14 semanas e 3 dias de gestação. Nessa época, o feto está em formação inicial, e o médico pode avaliar também se há padrões de fluxo sanguíneo anormais nas artérias que nutrem a placenta.
Ultrassonografia morfológica e seu papel no rastreamento
O ultrassom morfológico é um exame que verifica a estrutura do feto e o fluxo de sangue na placenta e nos vasos maternos. Quando esse fluxo está alterado nas artérias uterinas, isto é o fluxo de sangue materno, é possível detectar situações que podem favorecer a pré-eclâmpsia.
Saber dessa alteração já no comecinho possibilita acompanhamento mais frequente e uso de medicações que costumam ajudar na circulação e pressão. Além disso deve se ter maior vigilância de alguns sinais como edemas, dor de cabeça, principalmente na nuca, e alterações visuais.
Exames de sangue associados
Para um rastreamento mais detalhado, costumam ser pedidos alguns exames de sangue que analisam proteínas específicas produzidas pela placenta. Entre elas, destacam-se:
- PAPP-A (Proteína Plasmática Associada à Gravidez): pode indicar maior risco quando está em níveis baixos.
- PlGF (Fator de Crescimento Placentário): ajuda a mostrar se a placenta está se desenvolvendo de forma adequada.
- Beta-hCG: geralmente para confirmar a gravidez, mas em certos contextos pode dar pistas sobre riscos.
Quando o médico realiza o exame morfológico e cruza as informações do ultrassom com os marcadores sanguíneos, obtém-se um panorama muito mais completo. Isso faz toda a diferença no direcionamento do pré-natal, pois, caso o resultado indique alto risco, certas medidas podem ser adotadas para minimizar complicações futuras.
Identificação precoce e condutas preventivas
Detectar precocemente o risco de pré-eclâmpsia traz a oportunidade de intervir a tempo. Algumas estratégias que podem ser recomendadas:
- Uso de ácido acetilsalicílico (AAS) em baixa dose: Estudos mostram que iniciar AAS em torno de 12 a 16 semanas pode reduzir a incidência de pré-eclâmpsia em gestantes de alto risco.
- Uso de cálcio: Estudos recentes indicam doses baixas de cálcio a partir de 20 semanas de gestação.
- Monitoramento rigoroso: Consultas pré-natais mais frequentes, controle cuidadoso da pressão arterial e atenção aos sinais como dor de cabeça constante, alterações visuais ou inchaços repentinos.
- Exames laboratoriais mais detalhados: Pesquisa de proteinúria, enzimas hepáticas entre outros
- Estilo de vida equilibrado: Alimentação saudável, prática de atividade física moderada e repouso quando indicado.
Com esse cuidado, é possível reduzir as chances de complicações como parto prematuro, restrição de crescimento fetal, descolamento prematuro de placenta, baixo peso ao nascer, convulsões materna e em casos graves morte materna e fetal.
Vale lembrar que a doença hipertensiva da gestação, ou pré-eclâmpsia pode desenvolver outros quadros clínicos com a Síndrome HELLP e a própria eclâmpsia.
Por que esse tema é tão importante?
O grande ponto é que a pré-eclâmpsia é uma das maiores causas de morte materna no mundo. Mesmo quando não leva ao óbito, pode trazer complicações como partos prematuros, necessidade de UTI neonatal e outras intercorrências. Portanto, falar sobre rastreamento é vital para que as gestantes compreendam por que o pré-natal deve ser levado a sério.
Ter acompanhamento especializado e saber quais exames realizar oferece mais tranquilidade.
Principais dúvidas sobre pré-eclâmpsia
- Só quem tem fatores de risco precisa desse exame?
Não. Mesmo mulheres sem histórico familiar podem desenvolver pré-eclâmpsia, então o rastreamento é benéfico a todas. - Já dá para saber tudo só pelo ultrassom?
Não. O ultrassom é fundamental, mas os marcadores sanguíneos oferecem informações adicionais preciosas. - Qual o papel do pré-natal humanizado?
O acompanhamento próximo, com espaço para esclarecer dúvidas, faz com que a grávida siga as orientações de forma mais confiante e segura.
A pré-eclâmpsia não precisa ser encarada com medo, mas sim com conscientização. Fazer um bom pré-natal, com rastreamento no primeiro trimestre, pode evitar muitos problemas. Lembre-se de que cada corpo e cada gravidez são únicos. Por isso, mantenha-se informada, compartilhe dúvidas com o profissional de saúde e siga as orientações dadas. Assim, você aumenta as chances de ter uma gestação tranquila e com menos sustos.
Técnica Responsável: Dra. Samantha Ramos Toledo Pessôa – CRM-SP: 104245 – Ginecologista Obstétrica e Medicina Fetal na Clínica Núcleo Mater. Título em GO pela FEBRASGO, Certificado de Atuação em Medicina Fetal pela FEBRASGO.
Imagem: Canva
Fontes
- American College of Obstetricians and Gynecologists (ACOG). Practice Bulletin No. 202: Gestational Hypertension and Preeclampsia. 2019.
- World Health Organization (WHO). WHO recommendations for Prevention and treatment of pre-eclampsia and eclampsia. 2011.
- The Fetal Medicine Foundation (FMF). Disponível em: https://fetalmedicine.org
- Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Diretrizes de Hipertensão na Gestação.
- UpToDate. Preeclampsia: Clinical features and diagnosis. Acesso em 2025.