Estratégia de tratamento de IST.

Estratégias para Tratar Infecções Sexualmente Transmissíveis Resistentes

Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs) são causadas por vírus, bactérias ou outros microrganismos que podem ser transmitidos por contato sexual sem proteção adequada. Esse termo substitui o antigo “DST” (Doença Sexualmente Transmissível) e ressalta que, muitas vezes, a pessoa infectada pode não apresentar sintomas, mas ainda assim transmitir a infecção.

Hoje, em especial, vamos falar sobre os casos em que as ISTs se tornam resistentes aos tratamentos convencionais, exigindo estratégias cada vez mais modernas e eficazes. Para isso, convidamos a Dra. Samantha Pessôa, coordenadora da Clínica Núcleo Mater e especialista em Ginecologia, Obstetrícia e Medicina Fetal, para esclarecer dúvidas sobre diagnóstico, prevenção.



Dra. Samantha Pessôa: As ISTs resistentes são infecções em que os microrganismos, por meio de mutações genéticas ou outros mecanismos, deixam de responder aos medicamentos usuais. Isso acontece principalmente com bactérias que se tornam insensíveis a antibióticos ou, em menor grau, com vírus que passam a apresentar baixa resposta aos antivirais.

O assunto ganhou importância porque, conforme as terapias padrão vão falhando, esses patógenos encontram mais oportunidades de se espalhar. A automedicação e o uso incorreto de antibióticos agravam o problema, pois ajudam a selecionar cepas cada vez mais resistentes, dificultando o controle das infecções em nível global.



Dra. Samantha Pessôa: A gonorreia, provocada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae, é o exemplo mais notório. Já foram identificadas cepas chamadas de “supergonorreia”, que não respondem a muitos antibióticos de primeira linha.

A clamídia, por sua vez, também mostra sinais de resistência, embora de forma menos alarmante que a gonorreia. No caso de infecções virais, não falamos de “resistência” exatamente do mesmo modo, mas é possível observar cenários em que o herpes (HSV) ou o HPV apresentam resposta insatisfatória a terapias padrão, devido aos vários subtipo, principalmente em indivíduos com baixa imunidade.

Também é fundamental acompanhar a sífilis, que em geral reage bem à penicilina, mas há relatos pontuais de resistência em algumas regiões, ou tratamentos com pouca aderência.



Dra. Samantha Pessôa: Para começar, fazemos a avaliação clínica e investigamos o histórico de falhas em tratamentos anteriores. É muito importante colher informações sobre sintomas, tempo de evolução e uso prévio de medicamentos. Depois, prosseguimos com exames laboratoriais direcionados.

No caso da gonorreia, a cultura bacteriana ainda é essencial, pois nos permite realizar o teste de sensibilidade antimicrobiana, que mostra quais antibióticos podem ser eficazes. Já para a clamídia, a Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) é bastante utilizada, pois identifica o material genético do patógeno e detecta possíveis mutações.



Dra. Samantha Pessôa: Quando os antibióticos são tomados em doses inadequadas ou por menos tempo que o recomendado, apenas as bactérias mais sensíveis morrem. As mais resistentes sobrevivem e acabam se multiplicando. Esse processo se repete, gerando cepas cada vez mais difíceis de tratar.

O mesmo acontece com antivirais — se a pessoa não segue a indicação médica corretamente, o vírus pode desenvolver mutações que o tornem menos vulnerável ao medicamento. Por isso, sempre orientamos nossos pacientes a só usarem antibióticos e antivirais sob prescrição profissional, respeitando rigorosamente a duração e a dosagem estabelecidas.



Dra. Samantha Pessôa: Uma das principais estratégias é a terapia combinada, em que associamos mais de um tipo de fármaco para agir sobre diferentes pontos chave do patógeno. Isso reduz bastante a chance de o microrganismo desenvolver resistência a todos os medicamentos ao mesmo tempo. Além disso, há uma busca constante por novas classes de antibióticos. Alguns estudos se concentram em substâncias que atacam alvos específicos da bactéria, tornando mais difícil a adaptação do microrganismo.


Para infecções virais, vale destacar o papel preventivo das vacinas. Um exemplo é a vacina contra o HPV, que não apenas reduz o risco de cânceres associados ao vírus, mas também diminui a circulação de subtipos que poderiam se tornar resistentes. Em casos de herpes mais agressivos, podemos associar antivirais tradicionais a agentes que fortalecem o sistema imunológico, ajudando o corpo a controlar a infecção com mais eficiência.



Dra. Samantha Pessôa: O pré-natal inclui exames de rotina que rastreiam diversas ISTs, como sífilis, gonorreia, clamídia e HIV, por exemplo. Se identificamos resistência a um tratamento inicial, recorremos a testes adicionais para determinar quais opções terapêuticas podem ser eficazes e seguras para a mãe e para o bebê.

Algumas ISTs podem prejudicar a gestação ou mesmo ser transmitidas ao feto, portanto é imprescindível agir rápido e de forma assertiva. Aqui na Clínica Núcleo Mater, contamos com especialistas em medicina fetal e equipe multidisciplinar para garantir esse cuidado personalizado, sempre visando o bem-estar materno e fetal.



Dra. Samantha Pessôa: A prevenção começa com o uso consistente e correto de preservativos, capaz de barrar a transmissão de muitas bactérias e vírus. Outra medida vital é a vacinação contra o HPV, que previne vários subtipos de alto risco, incluindo aqueles ligados a lesões pré-cancerígenas.

Em termos de saúde pública, realizar campanhas de conscientização e promover educação sexual faz toda a diferença, pois as pessoas passam a entender como as infecções ocorrem e a importância de aderir aos tratamentos até o fim.


Também orientamos check-ups regulares em pessoas sexualmente ativas. Assim, detectamos a infecção precocemente e começamos a terapia antes que a IST se espalhe ou desenvolva resistência. Esse cuidado individual tem impacto coletivo, pois menos transmissão significa menos oportunidades para surgirem novas cepas.



Dra. Samantha Pessôa: As ISTs resistentes são um desafio crescente, mas não são motivo para desespero se forem abordadas com conhecimento, responsabilidade e empatia. É essencial realizar exames de rotina, aderir às indicações médicas e evitar o uso indiscriminado de antibióticos e antivirais.

O papel da prevenção também não pode ser subestimado: usar preservativos, vacinar-se contra o HPV e manter hábitos de higiene sexual adequados faz toda a diferença na redução das taxas de resistência.