Síndrome dos Ovários Policísticos

Tudo Sobre a Síndrome dos Ovários Policísticos

A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é um distúrbio hormonal que afeta milhões de mulheres em idade reprodutiva em todo o mundo.

Ao longo deste texto, você encontrará explicações sobre o papel de cada profissional envolvido no cuidado integral da paciente com SOP, desde o ginecologista até o nutricionista, passando pelo psicólogo, educador físico e outros. O objetivo é que, ao terminar a leitura, você se sinta mais segura para buscar ajuda especializada e entender por que esse distúrbio merece atenção e acompanhamento adequados.


A Síndrome dos Ovários Policísticos é uma condição caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas relacionados a desequilíbrios hormonais. Geralmente, há um aumento da resistência a insulina ,  com alterações hormonais, o que pode influenciar diretamente no ciclo menstrual e na função dos ovários.

Você pode estar se perguntando: “por que chamamos de ‘ovários policísticos’?”. Basicamente, o termo “policístico” refere-se à presença de pequenos cistos nos ovários, que são visualizados por meio de exames de imagem, especialmente o ultrassom transvaginal. Esses “cistos” são, na verdade, folículos ovarianos que não se desenvolveram por completo e, por isso, ficam “acumulados” nos ovários.

Mesmo que o nome soe assustador, é importante lembrar que muitas mulheres apresentam esses cistos sem necessariamente terem todos os sintomas da SOP. Por isso, é essencial investigar não apenas a aparência dos ovários em exames de imagem, mas também os níveis hormonais e a forma como o corpo da mulher respondem a eles.


Existem diferentes maneiras pelas quais a SOP pode se manifestar. Algumas mulheres têm sintomas mais intensos, enquanto outras percebem poucos sinais. De qualquer forma, é sempre bom ficar atenta a algumas mudanças no corpo e conversar com um profissional de saúde caso algo chame a sua atenção. Os sinais mais relatados são:

  1. Irregularidade Menstrual: ciclos muito longos, menstruações escassas ou mesmo ausência de menstruação por mais de três ciclos (amenorreia) podem indicar que não está ocorrendo ovulação regularmente.
  2. Excesso de Pelos (Hirsutismo): o aumento de pelos em áreas como rosto, peito, costas e abdômen acontece devido à alta concentração de andrógenos.
  3. Acne e Oleosidade: também resultado da influência dos andrógenos na pele.
  4. Ganho de Peso: a resistência à insulina, comum em muitas mulheres com SOP, pode contribuir para o acúmulo de gordura, principalmente na região abdominal.
  5. Queda de Cabelo: algumas pacientes relatam afinamento ou queda capilar (alopecia androgenética).

Vale ressaltar que nem toda mulher com ovários policísticos vai apresentar todos esses sintomas. A presença ou não de cada sinal pode variar, e a intensidade também é bastante diferente de pessoa para pessoa.


Até hoje, a ciência não determinou uma única causa para a Síndrome dos Ovários Policísticos. Muitos fatores podem contribuir para o surgimento da SOP, como questões genéticas, ambientais e de estilo de vida. A resistência à insulina é um componente importante do problema: quando o corpo não utiliza adequadamente a insulina (hormônio que ajuda a converter a glicose em energia), há um aumento na produção de andrógenos pelos ovários, intensificando os sintomas.

O diagnóstico costuma ser feito com base em três critérios principais (também conhecidos como “Critérios de Rotterdam”):

  1. Distúrbios da ovulação: menstruação irregular ou ausência de ovulação;
  2. Excesso de andrógenos: identificado por sinais clínicos (excesso de pelos, acne) ou por exames laboratoriais (dosagem hormonal);
  3. Ovários policísticos: verificados no ultrassom transvaginal.

Para confirmar o diagnóstico, o médico avalia se ao menos dois desses critérios estão presentes. Também podem ser pedidos exames de sangue para verificar os níveis de hormônios (como testosterona, LH, FSH entre outros) e descartar outras causas para os sintomas, como problemas na tireoide ou hiperprolactinemia, – é quando há excesso de prolactina (hormônio que estimula a produção de leite) no sangue, podendo causar secreção de leite fora da amamentação e irregularidades menstruais.


Se você já notou, a SOP não se resume apenas a mudanças nos ovários. Ela pode afetar o metabolismo, a pele, os cabelos, a saúde mental e até a fertilidade. Por isso, o tratamento costuma envolver vários especialistas e estratégias que atuam em conjunto. Essa é a essência do enfoque multidisciplinar: olhar para a paciente como um todo, em vez de focar apenas nos sintomas específicos.

  • Endocrinologia: O acompanhamento com um endocrinologista pode ser extremamente vantajoso, especialmente quando há resistência à insulina ou sobrepeso. Esse profissional avalia a produção hormonal de maneira geral e pode indicar medicamentos que auxiliem no equilíbrio metabólico.
  • Ginecologia: O ginecologista é o profissional central no diagnóstico e manejo dos sintomas relacionados ao ciclo menstrual, bem como na prescrição de anticoncepcionais ou indutores de ovulação, se for o caso.
  • Nutrição: A alimentação adequada pode fazer uma diferença gigantesca na rotina de quem tem SOP, ajudando a controlar o peso, melhorar a sensibilidade à insulina e balancear hormônios.
  • Educação Física: Praticar exercícios regularmente ajuda a reduzir a resistência à insulina, controla o peso e também melhora a saúde cardiovascular.
  • Psicologia: Quem convive com SOP pode enfrentar desafios emocionais, como baixa autoestima, ansiedade ou até depressão. Nesses casos, a ajuda de um psicólogo é valiosa para encarar essas questões de forma saudável.

Uma parte significativa do sucesso no tratamento da Síndrome dos Ovários Policísticos está relacionada aos hábitos alimentares. Você já deve ter ouvido que “somos o que comemos”, e, de fato, a forma como nos nutrimos reflete diretamente em diversas funções do corpo, incluindo a produção e a regulação de hormônios.

  • Redução de Açúcares e Carboidratos Refinados: Quando há resistência à insulina, é importante evitar alimentos com alto índice glicêmico, como doces, pães brancos e massas feitas com farinha refinada. Substituí-los por integrais e controlar a ingestão de açúcares auxilia no controle do peso e dos níveis de glicose.
  • Aumento de Fibras: Frutas, legumes, verduras e cereais integrais não apenas contribuem para a sensação de saciedade, mas também ajudam a regular o funcionamento intestinal e a manter estável a liberação de glicose no sangue.
  • Gorduras Boas: Trocar gorduras saturadas ou trans por gorduras insaturadas encontradas em peixes, azeite de oliva, abacate e oleaginosas pode melhorar a saúde do coração e o metabolismo.
  • Proteínas de Qualidade: Proteínas magras, como frango, peixe, ovos e leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico), ajudam no ganho de massa muscular e na sensação de saciedade.

Fazer mudanças na dieta nem sempre é simples, pois requer planejamento e disciplina. Por isso, o ideal é contar com o apoio de um nutricionista que possa elaborar um plano alimentar personalizado, levando em conta as necessidades individuais de cada pessoa.

Você já reparou como o exercício físico regular faz bem não apenas para o corpo, mas também para a mente? No caso de quem tem SOP, manter uma rotina de atividades traz benefícios ainda mais expressivos:

  1. Controle de Peso: Se há sobrepeso ou obesidade, a prática de exercícios ajuda a queimar calorias, mantendo um equilíbrio energético adequado.
  2. Melhora da Sensibilidade à Insulina: Uma rotina de treino, mesmo que moderada, pode tornar o corpo mais eficiente no uso da insulina, diminuindo os níveis de andrógenos e atenuando sintomas como excesso de pelos.
  3. Equilíbrio Hormonal: A atividade física regular auxilia no funcionamento geral do organismo, incluindo o sistema endócrino.
  4. Saúde Mental: Exercícios liberam endorfinas, hormônios ligados à sensação de bem-estar, reduzindo estresse e ansiedade.

Não é necessário fazer treinos intensos e extenuantes se isso não combina com você. Caminhadas diárias, aulas de dança, natação, ciclismo, yoga ou musculação podem ser adaptadas conforme seu gosto e condição física. O ideal é encontrar algo que dê prazer e possa ser mantido a longo prazo.


Quando falamos de ovários policísticos, nem sempre damos a devida atenção às implicações emocionais desse distúrbio hormonal. Para algumas mulheres, lidar com a irregularidade menstrual, a dificuldade para engravidar ou mudanças na aparência (como acne, excesso de pelos ou queda de cabelo) pode afetar a autoestima e o bem-estar mental.

É possível que se desenvolvam quadros de ansiedade, estresse ou até depressão, sobretudo quando há uma cobrança social para engravidar ou manter certos padrões estéticos. Nesse sentido, o apoio de um profissional de psicologia pode ser essencial.

  • Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): auxilia na reestruturação de pensamentos negativos e no estabelecimento de metas realistas.
  • Apoio de Grupos: algumas mulheres encontram conforto em grupos de apoio, onde podem compartilhar experiências e dicas práticas sobre como lidar com a SOP.
  • Estratégias de Redução de Estresse: práticas como meditação, mindfulness e ioga podem contribuir para manter a saúde mental em dia.

O acompanhamento emocional faz parte da abordagem multidisciplinar porque entendemos que corpo e mente estão intimamente conectados.


Além de mudanças no estilo de vida, alguns medicamentos podem ser utilizados de acordo com a indicação do médico responsável. Entre os mais comuns estão:

  1. Anticoncepcionais Orais: ajudam a regular o ciclo menstrual e a reduzir os níveis de andrógenos, amenizando sintomas como acne e excesso de pelos.
  2. Metformina: muitas vezes receitada para melhorar a resistência à insulina, principalmente em mulheres com sobrepeso ou obesidade.
  3. Indutores de Ovulação: em casos de dificuldade para engravidar, o médico pode prescrever medicamentos que estimulam a ovulação, como o citrato de clomifeno.
  4. Espironolactona: diurético que também possui efeito antiandrogênico, reduzindo o excesso de pelos e a acne.

A escolha do medicamento depende do quadro clínico de cada mulher, por isso é fundamental passar por consultas regulares e, se possível, ter acesso a uma equipe de profissionais que trabalhe em conjunto, ajustando as doses e acompanhando a evolução ao longo do tempo.


Algumas pessoas buscam terapias complementares para lidar com sintomas específicos da Síndrome dos Ovários Policísticos. Embora não substituam o tratamento convencional, podem trazer benefícios adicionais.

  • Acupuntura: estudos sugerem que a acupuntura pode auxiliar na redução do estresse, que por sua vez impacta a produção hormonal.
  • Fitoterápicos: determinadas plantas medicinais podem contribuir para a regulação hormonal, porém é fundamental conversar com um profissional antes de usá-las, pois elas podem ter interações medicamentosas.
  • Suplementos Alimentares: vitaminas e minerais, como a vitamina D, ômega-3 e magnésio, também podem ser úteis, mas somente após avaliação de um nutricionista ou médico.

É importante lembrar que o uso de qualquer terapia complementar precisa ser informado ao seu médico, para que não haja conflitos com outras medicações e para que a eficácia e a segurança sejam sempre priorizadas.


Muitas mulheres que descobrem ter ovários policísticos se preocupam com a possibilidade de engravidar no futuro. A SOP pode, de fato, dificultar a ovulação, mas isso não significa que a fertilidade esteja fora de alcance.

  • Indução da Ovulação: medicamentos específicos estimulam o processo natural dos ovários, aumentando as chances de ocorrer ovulação regular.
  • FIV (Fertilização in Vitro): em casos mais complexos, a reprodução assistida pode ser indicada. É um procedimento mais invasivo e caro, mas tem se mostrado eficiente em muitas situações.
  • Mudanças no Estilo de Vida: como já mencionado, controlar o peso, ter uma alimentação balanceada e praticar exercícios físicos aumentam significativamente as chances de uma concepção bem-sucedida.

O ideal é conversar abertamente com o ginecologista sobre suas expectativas em relação à maternidade para traçar um plano de ação personalizado.


Além de causar sintomas incômodos, a Síndrome dos Ovários Policísticos está associada a alguns riscos de longo prazo, como desenvolvimento de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e até mesmo câncer de endométrio (quando há ausência prolongada de menstruações e espessamento do endométrio).

Para reduzir esses riscos, é recomendado:

  1. Acompanhamento Regular: consultas periódicas com ginecologista e, se necessário, endocrinologista.
  2. Exames de Rotina: manter em dia as avaliações de glicemia, colesterol e pressão arterial.
  3. Estilo de Vida Saudável: praticar exercícios, manter uma alimentação balanceada, evitar tabagismo e consumo excessivo de álcool.
  4. Controle do Ciclo Menstrual: medicamentos hormonais podem ser indicados para regularizar a menstruação e prevenir hiperplasia endometrial.

Ao adotar essas medidas, as chances de complicações diminuem, e a qualidade de vida aumenta.

A Síndrome dos Ovários Policísticos envolve muito mais do que a presença de pequenos cistos nos ovários. Ela reflete um desequilíbrio hormonal que pode gerar consequências físicas, emocionais e até impactar a fertilidade. No entanto, é importante reforçar que com acompanhamento adequado, mudanças nos hábitos de vida e um olhar que considere a saúde como um todo, é possível ter uma melhora significativa nos sintomas e no bem-estar geral.

Cada mulher é única, e o planejamento do tratamento deve levar em conta não apenas os níveis hormonais e a imagem dos ovários, mas também o estilo de vida, as preferências pessoais e as expectativas em relação à maternidade. Nesse contexto, a abordagem multidisciplinar — envolvendo ginecologista, endocrinologista, nutricionista, psicólogo e outros profissionais — oferece um suporte integral, visando à melhora de todos os aspectos envolvidos na SOP.

Se você suspeita que possa ter ovários policísticos ou já recebeu o diagnóstico de SOP, procure um profissional de saúde para orientação. Lembre-se de que o conhecimento é uma ferramenta poderosa, e quanto mais você souber sobre o seu corpo e as suas opções de tratamento, mais ativa poderá ser em todo o processo de cuidado.


Técnica Responsável: Dra. Samantha Ramos Toledo Pessôa – CRM-SP: 104245 – Ginecologista Obstétrica e Medicina Fetal na Clínica Núcleo Mater. Título em GO pela FEBRASGO, Certificado de Atuação em Medicina Fetal pela FEBRASGO.

Imagem: Canva


Fontes

  1. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO)
    https://www.febrasgo.org.br/
  2. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)
    https://www.endocrino.org.br/
  3. Ministério da Saúde – Brasil
    https://www.gov.br/saude/pt-br
  4. Hospital Israelita Albert Einstein – Artigos e Conteúdos de Saúde
    https://www.einstein.br/
  5. Rotterdam ESHRE/ASRM-Sponsored PCOS Consensus – PubMed
    https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/