A Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP) é um distúrbio hormonal que afeta milhões de mulheres em idade reprodutiva em todo o mundo.
Ao longo deste texto, você encontrará explicações sobre o papel de cada profissional envolvido no cuidado integral da paciente com SOP, desde o ginecologista até o nutricionista, passando pelo psicólogo, educador físico e outros. O objetivo é que, ao terminar a leitura, você se sinta mais segura para buscar ajuda especializada e entender por que esse distúrbio merece atenção e acompanhamento adequados.
O que é a Síndrome dos Ovários Policísticos?
A Síndrome dos Ovários Policísticos é uma condição caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas relacionados a desequilíbrios hormonais. Geralmente, há um aumento da resistência a insulina , com alterações hormonais, o que pode influenciar diretamente no ciclo menstrual e na função dos ovários.
Você pode estar se perguntando: “por que chamamos de ‘ovários policísticos’?”. Basicamente, o termo “policístico” refere-se à presença de pequenos cistos nos ovários, que são visualizados por meio de exames de imagem, especialmente o ultrassom transvaginal. Esses “cistos” são, na verdade, folículos ovarianos que não se desenvolveram por completo e, por isso, ficam “acumulados” nos ovários.
Mesmo que o nome soe assustador, é importante lembrar que muitas mulheres apresentam esses cistos sem necessariamente terem todos os sintomas da SOP. Por isso, é essencial investigar não apenas a aparência dos ovários em exames de imagem, mas também os níveis hormonais e a forma como o corpo da mulher respondem a eles.
Principais Sintomas e Sinais da Síndrome dos Ovários Policísticos
Existem diferentes maneiras pelas quais a SOP pode se manifestar. Algumas mulheres têm sintomas mais intensos, enquanto outras percebem poucos sinais. De qualquer forma, é sempre bom ficar atenta a algumas mudanças no corpo e conversar com um profissional de saúde caso algo chame a sua atenção. Os sinais mais relatados são:
- Irregularidade Menstrual: ciclos muito longos, menstruações escassas ou mesmo ausência de menstruação por mais de três ciclos (amenorreia) podem indicar que não está ocorrendo ovulação regularmente.
- Excesso de Pelos (Hirsutismo): o aumento de pelos em áreas como rosto, peito, costas e abdômen acontece devido à alta concentração de andrógenos.
- Acne e Oleosidade: também resultado da influência dos andrógenos na pele.
- Ganho de Peso: a resistência à insulina, comum em muitas mulheres com SOP, pode contribuir para o acúmulo de gordura, principalmente na região abdominal.
- Queda de Cabelo: algumas pacientes relatam afinamento ou queda capilar (alopecia androgenética).
Vale ressaltar que nem toda mulher com ovários policísticos vai apresentar todos esses sintomas. A presença ou não de cada sinal pode variar, e a intensidade também é bastante diferente de pessoa para pessoa.
Causas e Diagnóstico da Síndrome dos Ovários Policísticos
Até hoje, a ciência não determinou uma única causa para a Síndrome dos Ovários Policísticos. Muitos fatores podem contribuir para o surgimento da SOP, como questões genéticas, ambientais e de estilo de vida. A resistência à insulina é um componente importante do problema: quando o corpo não utiliza adequadamente a insulina (hormônio que ajuda a converter a glicose em energia), há um aumento na produção de andrógenos pelos ovários, intensificando os sintomas.
O diagnóstico costuma ser feito com base em três critérios principais (também conhecidos como “Critérios de Rotterdam”):
- Distúrbios da ovulação: menstruação irregular ou ausência de ovulação;
- Excesso de andrógenos: identificado por sinais clínicos (excesso de pelos, acne) ou por exames laboratoriais (dosagem hormonal);
- Ovários policísticos: verificados no ultrassom transvaginal.
Para confirmar o diagnóstico, o médico avalia se ao menos dois desses critérios estão presentes. Também podem ser pedidos exames de sangue para verificar os níveis de hormônios (como testosterona, LH, FSH entre outros) e descartar outras causas para os sintomas, como problemas na tireoide ou hiperprolactinemia, – é quando há excesso de prolactina (hormônio que estimula a produção de leite) no sangue, podendo causar secreção de leite fora da amamentação e irregularidades menstruais.
Por que o Enfoque Multidisciplinar é Importante para a Síndrome dos Ovários Policísticos?
Se você já notou, a SOP não se resume apenas a mudanças nos ovários. Ela pode afetar o metabolismo, a pele, os cabelos, a saúde mental e até a fertilidade. Por isso, o tratamento costuma envolver vários especialistas e estratégias que atuam em conjunto. Essa é a essência do enfoque multidisciplinar: olhar para a paciente como um todo, em vez de focar apenas nos sintomas específicos.
- Endocrinologia: O acompanhamento com um endocrinologista pode ser extremamente vantajoso, especialmente quando há resistência à insulina ou sobrepeso. Esse profissional avalia a produção hormonal de maneira geral e pode indicar medicamentos que auxiliem no equilíbrio metabólico.
- Ginecologia: O ginecologista é o profissional central no diagnóstico e manejo dos sintomas relacionados ao ciclo menstrual, bem como na prescrição de anticoncepcionais ou indutores de ovulação, se for o caso.
- Nutrição: A alimentação adequada pode fazer uma diferença gigantesca na rotina de quem tem SOP, ajudando a controlar o peso, melhorar a sensibilidade à insulina e balancear hormônios.
- Educação Física: Praticar exercícios regularmente ajuda a reduzir a resistência à insulina, controla o peso e também melhora a saúde cardiovascular.
- Psicologia: Quem convive com SOP pode enfrentar desafios emocionais, como baixa autoestima, ansiedade ou até depressão. Nesses casos, a ajuda de um psicólogo é valiosa para encarar essas questões de forma saudável.
Ajustes na Alimentação no tratamento da a Síndrome dos Ovários Policísticos
Uma parte significativa do sucesso no tratamento da Síndrome dos Ovários Policísticos está relacionada aos hábitos alimentares. Você já deve ter ouvido que “somos o que comemos”, e, de fato, a forma como nos nutrimos reflete diretamente em diversas funções do corpo, incluindo a produção e a regulação de hormônios.
- Redução de Açúcares e Carboidratos Refinados: Quando há resistência à insulina, é importante evitar alimentos com alto índice glicêmico, como doces, pães brancos e massas feitas com farinha refinada. Substituí-los por integrais e controlar a ingestão de açúcares auxilia no controle do peso e dos níveis de glicose.
- Aumento de Fibras: Frutas, legumes, verduras e cereais integrais não apenas contribuem para a sensação de saciedade, mas também ajudam a regular o funcionamento intestinal e a manter estável a liberação de glicose no sangue.
- Gorduras Boas: Trocar gorduras saturadas ou trans por gorduras insaturadas encontradas em peixes, azeite de oliva, abacate e oleaginosas pode melhorar a saúde do coração e o metabolismo.
- Proteínas de Qualidade: Proteínas magras, como frango, peixe, ovos e leguminosas (feijão, lentilha, grão-de-bico), ajudam no ganho de massa muscular e na sensação de saciedade.
Fazer mudanças na dieta nem sempre é simples, pois requer planejamento e disciplina. Por isso, o ideal é contar com o apoio de um nutricionista que possa elaborar um plano alimentar personalizado, levando em conta as necessidades individuais de cada pessoa.
A Importância de se Mexer: Atividade Física e a a Síndrome dos Ovários Policísticos
Você já reparou como o exercício físico regular faz bem não apenas para o corpo, mas também para a mente? No caso de quem tem SOP, manter uma rotina de atividades traz benefícios ainda mais expressivos:
- Controle de Peso: Se há sobrepeso ou obesidade, a prática de exercícios ajuda a queimar calorias, mantendo um equilíbrio energético adequado.
- Melhora da Sensibilidade à Insulina: Uma rotina de treino, mesmo que moderada, pode tornar o corpo mais eficiente no uso da insulina, diminuindo os níveis de andrógenos e atenuando sintomas como excesso de pelos.
- Equilíbrio Hormonal: A atividade física regular auxilia no funcionamento geral do organismo, incluindo o sistema endócrino.
- Saúde Mental: Exercícios liberam endorfinas, hormônios ligados à sensação de bem-estar, reduzindo estresse e ansiedade.
Não é necessário fazer treinos intensos e extenuantes se isso não combina com você. Caminhadas diárias, aulas de dança, natação, ciclismo, yoga ou musculação podem ser adaptadas conforme seu gosto e condição física. O ideal é encontrar algo que dê prazer e possa ser mantido a longo prazo.
Síndrome dos Ovários Policísticos: Aspectos Psicológicos e Emocionais
Quando falamos de ovários policísticos, nem sempre damos a devida atenção às implicações emocionais desse distúrbio hormonal. Para algumas mulheres, lidar com a irregularidade menstrual, a dificuldade para engravidar ou mudanças na aparência (como acne, excesso de pelos ou queda de cabelo) pode afetar a autoestima e o bem-estar mental.
É possível que se desenvolvam quadros de ansiedade, estresse ou até depressão, sobretudo quando há uma cobrança social para engravidar ou manter certos padrões estéticos. Nesse sentido, o apoio de um profissional de psicologia pode ser essencial.
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): auxilia na reestruturação de pensamentos negativos e no estabelecimento de metas realistas.
- Apoio de Grupos: algumas mulheres encontram conforto em grupos de apoio, onde podem compartilhar experiências e dicas práticas sobre como lidar com a SOP.
- Estratégias de Redução de Estresse: práticas como meditação, mindfulness e ioga podem contribuir para manter a saúde mental em dia.
O acompanhamento emocional faz parte da abordagem multidisciplinar porque entendemos que corpo e mente estão intimamente conectados.
Tratamentos Medicamentosos para a Síndrome dos Ovários Policísticos
Além de mudanças no estilo de vida, alguns medicamentos podem ser utilizados de acordo com a indicação do médico responsável. Entre os mais comuns estão:
- Anticoncepcionais Orais: ajudam a regular o ciclo menstrual e a reduzir os níveis de andrógenos, amenizando sintomas como acne e excesso de pelos.
- Metformina: muitas vezes receitada para melhorar a resistência à insulina, principalmente em mulheres com sobrepeso ou obesidade.
- Indutores de Ovulação: em casos de dificuldade para engravidar, o médico pode prescrever medicamentos que estimulam a ovulação, como o citrato de clomifeno.
- Espironolactona: diurético que também possui efeito antiandrogênico, reduzindo o excesso de pelos e a acne.
A escolha do medicamento depende do quadro clínico de cada mulher, por isso é fundamental passar por consultas regulares e, se possível, ter acesso a uma equipe de profissionais que trabalhe em conjunto, ajustando as doses e acompanhando a evolução ao longo do tempo.
Terapias Complementares durante a Síndrome dos Ovários Policísticos
Algumas pessoas buscam terapias complementares para lidar com sintomas específicos da Síndrome dos Ovários Policísticos. Embora não substituam o tratamento convencional, podem trazer benefícios adicionais.
- Acupuntura: estudos sugerem que a acupuntura pode auxiliar na redução do estresse, que por sua vez impacta a produção hormonal.
- Fitoterápicos: determinadas plantas medicinais podem contribuir para a regulação hormonal, porém é fundamental conversar com um profissional antes de usá-las, pois elas podem ter interações medicamentosas.
- Suplementos Alimentares: vitaminas e minerais, como a vitamina D, ômega-3 e magnésio, também podem ser úteis, mas somente após avaliação de um nutricionista ou médico.
É importante lembrar que o uso de qualquer terapia complementar precisa ser informado ao seu médico, para que não haja conflitos com outras medicações e para que a eficácia e a segurança sejam sempre priorizadas.
Como a Síndrome dos Ovários Policísticos impacto na fertilidade?
Muitas mulheres que descobrem ter ovários policísticos se preocupam com a possibilidade de engravidar no futuro. A SOP pode, de fato, dificultar a ovulação, mas isso não significa que a fertilidade esteja fora de alcance.
- Indução da Ovulação: medicamentos específicos estimulam o processo natural dos ovários, aumentando as chances de ocorrer ovulação regular.
- FIV (Fertilização in Vitro): em casos mais complexos, a reprodução assistida pode ser indicada. É um procedimento mais invasivo e caro, mas tem se mostrado eficiente em muitas situações.
- Mudanças no Estilo de Vida: como já mencionado, controlar o peso, ter uma alimentação balanceada e praticar exercícios físicos aumentam significativamente as chances de uma concepção bem-sucedida.
O ideal é conversar abertamente com o ginecologista sobre suas expectativas em relação à maternidade para traçar um plano de ação personalizado.
Prevenção de Complicações da Síndrome dos Ovários Policísticos
Além de causar sintomas incômodos, a Síndrome dos Ovários Policísticos está associada a alguns riscos de longo prazo, como desenvolvimento de diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e até mesmo câncer de endométrio (quando há ausência prolongada de menstruações e espessamento do endométrio).
Para reduzir esses riscos, é recomendado:
- Acompanhamento Regular: consultas periódicas com ginecologista e, se necessário, endocrinologista.
- Exames de Rotina: manter em dia as avaliações de glicemia, colesterol e pressão arterial.
- Estilo de Vida Saudável: praticar exercícios, manter uma alimentação balanceada, evitar tabagismo e consumo excessivo de álcool.
- Controle do Ciclo Menstrual: medicamentos hormonais podem ser indicados para regularizar a menstruação e prevenir hiperplasia endometrial.
Ao adotar essas medidas, as chances de complicações diminuem, e a qualidade de vida aumenta.
A Síndrome dos Ovários Policísticos envolve muito mais do que a presença de pequenos cistos nos ovários. Ela reflete um desequilíbrio hormonal que pode gerar consequências físicas, emocionais e até impactar a fertilidade. No entanto, é importante reforçar que com acompanhamento adequado, mudanças nos hábitos de vida e um olhar que considere a saúde como um todo, é possível ter uma melhora significativa nos sintomas e no bem-estar geral.
Cada mulher é única, e o planejamento do tratamento deve levar em conta não apenas os níveis hormonais e a imagem dos ovários, mas também o estilo de vida, as preferências pessoais e as expectativas em relação à maternidade. Nesse contexto, a abordagem multidisciplinar — envolvendo ginecologista, endocrinologista, nutricionista, psicólogo e outros profissionais — oferece um suporte integral, visando à melhora de todos os aspectos envolvidos na SOP.
Se você suspeita que possa ter ovários policísticos ou já recebeu o diagnóstico de SOP, procure um profissional de saúde para orientação. Lembre-se de que o conhecimento é uma ferramenta poderosa, e quanto mais você souber sobre o seu corpo e as suas opções de tratamento, mais ativa poderá ser em todo o processo de cuidado.
Técnica Responsável: Dra. Samantha Ramos Toledo Pessôa – CRM-SP: 104245 – Ginecologista Obstétrica e Medicina Fetal na Clínica Núcleo Mater. Título em GO pela FEBRASGO, Certificado de Atuação em Medicina Fetal pela FEBRASGO.
Imagem: Canva
Fontes
- Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO)
https://www.febrasgo.org.br/ - Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM)
https://www.endocrino.org.br/ - Ministério da Saúde – Brasil
https://www.gov.br/saude/pt-br - Hospital Israelita Albert Einstein – Artigos e Conteúdos de Saúde
https://www.einstein.br/ - Rotterdam ESHRE/ASRM-Sponsored PCOS Consensus – PubMed
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/