Restrição de Crescimento Fetal Assimétrica e Simétrica: Diferenças e Tratamentos

Durante a gravidez, acompanhar o desenvolvimento do bebê é essencial para garantir a saúde e o bem-estar tanto da mãe quanto da criança. Quando o crescimento do feto não ocorre como esperado, pode ser um sinal de Restrição de Crescimento Fetal. Essa condição, frequentemente detectada em exames pré-natais, pode ser classificada como assimétrica ou simétrica, dependendo das características do desenvolvimento do bebê.

Mas o que exatamente essas definições significam? Por que acontecem? E como elas são tratadas? Neste artigo, vamos explorar essas questões de forma detalhada e acessível.


A Restrição de Crescimento Fetal ocorre quando o feto não atinge o tamanho ou peso esperado para a sua idade gestacional. Isso pode significar que o bebê enfrenta dificuldades para crescer de forma adequada, o que pode estar relacionado a problemas na saúde do feto, da placenta ou da mãe. Identificar e tratar essa condição é essencial para prevenir complicações e garantir um desfecho positivo na gravidez.

Existem dois tipos principais de Restrição de Crescimento Fetal:

  1. Restrição de Crescimento Fetal Simétrica: O crescimento do bebê é reduzido de forma proporcional. Tanto a cabeça quanto o corpo apresentam tamanhos menores do que o esperado.
  2. Restrição de Crescimento Fetal Assimétrica: O crescimento do abdominal do bebê é comprometido, enquanto a cabeça e os membros mantêm um desenvolvimento próximo ao normal. Esse tipo de restrição costuma ser mais comum e está frequentemente relacionado a problemas na placenta ou na saúde materna.

As razões para o desenvolvimento da Restrição de Crescimento Fetal variam dependendo de cada caso. A seguir, detalhamos as principais causas relacionadas a cada tipo:

Causas da Restrição de Crescimento Fetal Simétrica

  • Alterações genéticas ou cromossômicas: Condições como a Síndrome de Down, síndrome de Edwards ou outras alterações genéticas podem comprometer o crescimento global do feto.
  • Infecções congênitas: Infecções como toxoplasmose, citomegalovírus, rubéola ou sífilis podem impactar o desenvolvimento fetal desde o início da gravidez.
  • Exposição a substâncias nocivas: Consumo de álcool, tabaco ou drogas ilícitas durante a gestação pode levar ao comprometimento do crescimento fetal de maneira proporcional.
  • Doenças maternas crônicas: Condições como insuficiência renal ou doenças autoimunes podem afetar o desenvolvimento do bebê.
  • Insuficiência placentária: Quando a placenta não consegue fornecer nutrientes e oxigênio suficientes ao bebê, o crescimento abdominal é impactado, mas a cabeça e membros tendem a ser preservados.
  • Doenças maternas: Hipertensão arterial, pré-eclâmpsia e diabetes não controlado podem reduzir o fluxo sanguíneo para o feto.
  • Desnutrição materna: A ingestão inadequada de nutrientes essenciais pela mãe pode comprometer o crescimento fetal.
  • Gestação múltipla: Em gestações gemelares ou múltiplas, um ou mais fetos podem apresentar Restrição de Crescimento Fetal devido à competição por nutrientes.

O diagnóstico da Restrição de Crescimento Fetal é realizado principalmente por meio do acompanhamento pré-natal. Consultas regulares permitem ao obstetra identificar sinais de alerta e solicitar exames específicos para avaliar o crescimento do bebê. Entre os métodos mais utilizados estão:

  1. Ultrassom obstétrico: Mede o peso estimado do feto e compara com tabelas de referência para a idade gestacional.
  2. Circunferência abdominal: Um indicador importante de crescimento, especialmente para detectar Restrição de Crescimento Fetal Assimétrica.
  3. Índices de relações entre cabeça/abdome e  abdômen/ fêmur: Avaliam a proporção entre a cabeça e o corpo do bebê.
  4. Doppler obstétrico: Analisa o fluxo sanguíneo entre a mãe, a placenta e o feto, ajudando a identificar problemas de insuficiência placentária.
  5. Monitoramento do líquido amniótico: A quantidade reduzida pode ser um sinal de que o bebê está enfrentando dificuldades para crescer adequadamente.

Esses exames ajudam o médico a determinar não apenas se há Restrição de Crescimento Fetal, mas também o tipo e a gravidade da condição.


O manejo da Restrição de Crescimento Fetal depende do tipo identificado e da causa subjacente. A seguir, explicamos as principais abordagens para cada caso:

Manejo da Restrição de Crescimento Fetal Simétrica

  • Investigações complementares: Em casos de Restrição de Crescimento Fetal Simétrica, o médico pode solicitar exames adicionais para identificar possíveis causas genéticas ou infecciosas.
  • Acompanhamento intensivo: Monitoramento frequente com ultrassons e exames de Doppler para avaliar o desenvolvimento fetal e o fluxo sanguíneo.
  • Planejamento do parto: Dependendo da gravidade, o parto pode ser antecipado para reduzir os riscos ao bebê.

Manejo da Restrição de Crescimento Fetal Assimétrica

  • Monitoramento da saúde placentária: Avaliação contínua do funcionamento da placenta para garantir o suprimento adequado de nutrientes e oxigênio ao feto.
  • Intervenções para melhorar a circulação: Em alguns casos, o médico pode recomendar repouso, ajustes na dieta ou medicamentos para melhorar o fluxo sanguíneo uterino.
  • Decisão sobre o momento do parto: Em casos graves, o parto pode ser induzido ou realizado por cesariana antes da data prevista, dependendo da condição do bebê.

O prognóstico para bebês com Restrição de Crescimento Fetal depende do tipo, da causa e da rapidez com que a condição foi identificada e tratada. De maneira geral:

  • Bebês com Restrição de Crescimento Fetal Assimétrica tendem a ter um prognóstico mais favorável, especialmente porque o cérebro geralmente é preservado. Após o nascimento, esses bebês podem recuperar rapidamente o peso e o crescimento corporal.
  • No caso da Restrição de Crescimento Fetal Simétrica, o prognóstico pode ser mais desafiador, especialmente se houver causas genéticas ou infecções associadas. A recuperação depende da identificação precoce e do tratamento adequado.

Independentemente do tipo, o acompanhamento especializado durante e após a gravidez é essencial para garantir o melhor desfecho possível.


Embora nem todos os casos de Restrição de Crescimento Fetal possam ser evitados, algumas medidas podem reduzir os riscos:

  • Realizar um pré-natal regular: Consultas frequentes permitem identificar problemas precocemente e intervir quando necessário.
  • Manter uma alimentação saudável: Consumir alimentos ricos em nutrientes essenciais, como proteínas, ferro e ácido fólico.
  • Evitar substâncias nocivas: Abstenha-se de consumir álcool, tabaco e outras drogas durante a gravidez.
  • Controlar doenças crônicas: Hipertensão e diabetes, quando bem controlados, têm menor impacto no crescimento fetal.
  • Reduzir o estresse: Técnicas de relaxamento, como meditação ou exercícios leves, podem ajudar a melhorar o fluxo sanguíneo para o útero.

Descobrir que o bebê tem Restrição de Crescimento Fetal pode ser emocionalmente desafiador para a gestante e sua família. Por isso, é importante buscar apoio, tanto profissional quanto emocional, durante esse período:

  • Converse abertamente com o médico: Tire todas as dúvidas sobre a condição e os próximos passos.
  • Participe de grupos de apoio: Compartilhar experiências com outras gestantes pode ajudar a aliviar a ansiedade.
  • Busque orientação psicológica: Um psicólogo pode ajudar a lidar com as preocupações e o estresse.

A saúde emocional da mãe é tão importante quanto a saúde física, e cuidar desse aspecto é fundamental para um desfecho positivo na gestação.


Considerações Finais

A Restrição de Crescimento Fetal, tanto em sua forma assimétrica quanto simétrica, é uma condição que exige atenção e cuidados especializados. Embora possa ser assustador ouvir esse diagnóstico, o acompanhamento pré-natal regular e a intervenção precoce fazem toda a diferença. Lembre-se de que cada caso é único e que o médico responsável está preparado para orientar e cuidar de você e do seu bebê durante essa jornada.


Técnica Responsável

Dra. Samantha Ramos Toledo Pessôa – CRM-SP: 104245
Ginecologista Obstétrica e Medicina Fetal. Título em GO pela FEBRASGO, Certificado de Atuação em Medicina Fetal pela FEBRASGO.


Fontes

  1. Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO)
    Disponível em: https://www.febrasgo.org.br
  2. Organização Mundial da Saúde (OMS)
    Disponível em: https://www.who.int
  3. Johns Hopkins Medicine: Fetal Growth Restriction
    Disponível em: https://www.hopkinsmedicine.org
  4. Sociedade Internacional de Medicina Fetal (ISUOG)
    Disponível em: https://www.isuog.org
  5. Artigos científicos no PubMed
    Exemplo: “Fetal Growth Restriction: Diagnosis and Management” (2020).