Entrevista com a Dra. Samantha Pessôa
Durante a gestação, o corpo da mulher passa por transformações intensas — físicas, hormonais e emocionais. Mas e quando alguns desses sinais, aparentemente normais, escondem algo mais sério? Conversamos com a ginecologista e especialista em medicina fetal Dra. Samantha Ramos Toledo Pessôa sobre um tema delicado, mas que merece atenção: a pré-eclâmpsia.
O que é, exatamente, a pré-eclâmpsia?
Dra. Samantha: A pré-eclâmpsia é uma condição gestacional caracterizada pela elevação da pressão arterial após a 20ª semana de gravidez, geralmente acompanhada de sinais como presença de proteína na urina, inchaços anormais e, em casos mais graves, alterações no fígado, rins e sistema nervoso central.
Ela pode surgir mesmo em mulheres que nunca tiveram pressão alta antes, por isso é tão importante o pré-natal contínuo. O mais perigoso é que, em muitos casos, os sintomas são sutis e fáceis de confundir com os desconfortos normais da gravidez.
Quais são os primeiros sinais de alerta que as gestantes devem observar?
Dra. Samantha: Alguns sintomas merecem atenção imediata. Os principais são:
- Inchaços repentinos, especialmente no rosto, mãos e pés.
- Dor de cabeça persistente, que não melhora com repouso ou analgésicos leves.
- Alterações na visão, como embaçamento, sensibilidade à luz ou pontos luminosos.
- Dor na parte superior do abdômen, logo abaixo das costelas, mais à direita.
- Ganhos de peso muito rápidos, por retenção de líquidos.
Esses sintomas nem sempre aparecem todos juntos, então qualquer um deles já é motivo para procurar avaliação médica.
A pré-eclâmpsia pode surgir de repente ou dá sinais progressivos?
Dra. Samantha: A pré-eclâmpsia pode ser silenciosa nas fases iniciais e evoluir de forma rápida, especialmente em gestações de alto risco. É por isso que o acompanhamento obstétrico é tão necessário — muitas vezes é no consultório que percebemos alterações antes mesmo da mulher sentir algo diferente.
Em outras situações, os sintomas vão aparecendo gradualmente, mas como o corpo da gestante já está passando por tantas mudanças, nem sempre esses sinais são considerados pela gestante.
Quais mulheres têm mais risco de desenvolver a condição?
Dra. Samantha: Toda gestante deve ficar atenta, mas existem sim alguns fatores de risco importantes:
- Primeira gestação;
- Histórico de pré-eclâmpsia em gravidez anterior ou na família;
- Gravidez de gêmeos;
- Hipertensão, diabetes ou doenças autoimunes pré-existentes;
- Obesidade;
- Idade abaixo de 18 ou acima de 35 anos.
Mas mesmo sem esses fatores, a pré-eclâmpsia pode surgir. Por isso, ninguém deve se considerar “isenta” do risco só porque está saudável.
E como o pré-natal ajuda a prevenir ou detectar a pré-eclâmpsia precocemente?
Dra. Samantha: O pré-natal é a nossa principal ferramenta de cuidado. Nele, acompanhamos pressão arterial, exames laboratoriais, função renal, exames de urina, além dos ultrassons para avaliar o desenvolvimento do bebê e da placenta.
Hoje, contamos com tecnologias como o ultrassom com Doppler, que nos ajuda a avaliar o fluxo de sangue entre mãe e bebê. Quando conseguimos identificar alterações precoces na circulação uterina, por exemplo, já conseguimos prever um risco maior para desenvolver a síndrome.
Existe algum tratamento quando a pré-eclâmpsia já foi diagnosticada?
Dra. Samantha: Sim. O tratamento vai depender da gravidade e do tempo de gestação.
Nos casos leves e com o bebê ainda pequeno, o objetivo é controlar a pressão e prolongar a gestação com segurança, com acompanhamento mais frequente, repouso, exames semanais e, às vezes, medicamentos específicos.
Em casos mais graves ou quando a gestação já está em fase avançada, pode ser necessário antecipar o parto. A única forma de “curar” a pré-eclâmpsia é o parto, mas isso é sempre decidido com base no bem-estar da mãe e do bebê.
É possível evitar que a pré-eclâmpsia aconteça?
Dra. Samantha: Não podemos evitar 100% dos casos, mas há formas de reduzir bastante o risco, especialmente nas mulheres que já têm fatores predisponentes.
Em algumas situações, indicamos o uso de ácido acetil salicílico (o AAS) em baixa dose e cálcio a partir do primeiro trimestre, que tem se mostrado eficaz em prevenir a síndrome em pacientes com risco aumentado. Além disso, alimentação equilibrada, controle de peso e hábitos saudáveis são sempre aliados da saúde da gestante.
Mas, acima de tudo, a prevenção vem do acompanhamento constante e de um pré-natal atento, acolhedor e personalizado.
A condição afeta o bebê também? Quais são os riscos?
Dra. Samantha: Sim, a pré-eclâmpsia pode afetar o bebê, principalmente porque ela compromete o funcionamento da placenta, responsável por levar oxigênio e nutrientes.
Os principais riscos são:
- Restrição do crescimento intrauterino;
- Redução do líquido amniótico;
- Parto prematuro, se for necessário antecipar o nascimento;
- Em casos extremos, risco de descolamento de placenta ou óbito fetal.
Por isso, o cuidado conjunto entre obstetra e especialistas em medicina fetal é essencial para monitorar o bebê com todo o suporte necessário.
Qual mensagem você gostaria de deixar para quem está passando por essa situação ou tem medo da pré-eclâmpsia?
Dra. Samantha: Em primeiro lugar, saiba que você não está sozinha. A pré-eclâmpsia assusta, mas com acompanhamento especializado, a imensa maioria dos casos tem desfechos positivos.
Escute seu corpo, não ignore os sinais e confie na sua intuição. Ao menor sinal de dúvida, fale com sua equipe médica. O cuidado começa na escuta, na informação e na parceria.
A gestação é um momento potente — e mesmo com desafios, pode ser vivida com segurança, acolhimento e amor.
Técnica Responsável:
Dra. Samantha Ramos Toledo Pessôa – CRM-SP: 104245
Ginecologista Obstétrica e Medicina Fetal
Título em GO pela FEBRASGO
Certificado de Atuação em Medicina Fetal pela FEBRASGO