Você já se perguntou por que, em certos momentos do mês, parece que suas emoções estão à flor da pele? Ou por que algumas fases da vida vêm acompanhadas de um turbilhão de sentimentos difíceis de explicar? A resposta pode estar mais perto do que você imagina: nos seus hormônios.
A conexão entre sistema reprodutivo feminino e saúde mental é real e cada vez mais reconhecida pela medicina. Mas ainda existem muitos mitos por aí — e é hora de esclarecer.
Neste artigo, vamos desmistificar as ideias mais comuns e explicar, com base científica, como os hormônios podem influenciar o bem-estar emocional da mulher. Preparada?
Mito 1: “É tudo psicológico, os hormônios não têm nada a ver com o humor”
Falso. As variações hormonais têm, sim, efeitos reais no cérebro e nas emoções. Estrogênio e progesterona — os dois principais hormônios sexuais femininos — atuam em áreas do cérebro relacionadas ao humor, como o hipotálamo, a amígdala e o hipocampo.
Em momentos como fase lútea do ciclo menstrual, puerpério, pós-parto, TPM intensa, perimenopausa e menopausa, essas alterações podem causar sensações de tristeza, irritabilidade, ansiedade ou mesmo episódios depressivos. Não é “frescura”. É biologia.
🌡 Verdade: “Oscilações hormonais podem acentuar transtornos mentais preexistentes”
Sim. Mulheres com histórico de depressão, transtornos de ansiedade ou transtorno bipolar podem perceber agravamento dos sintomas durante fases de mudança hormonal intensa.
Por isso, o acompanhamento ginecológico e psicológico em conjunto é tão importante. A saúde da mulher precisa ser avaliada de forma integral — mente e corpo se conectam o tempo todo.
Mito 2: “A TPM é só desculpa para mau humor”
Não é bem assim. A famosa TPM — Tensão Pré-Menstrual — existe, é reconhecida pela medicina, e pode se manifestar de formas diferentes em cada mulher.
Algumas sentem apenas um leve desconforto, mas outras enfrentam dores físicas, cansaço, baixa autoestima e até quadros graves como o Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM), que é uma condição clínica com impacto significativo na vida diária.
Levar a sério o que você sente é o primeiro passo para cuidar de si.
🤰 Verdade: “A gravidez pode mexer muito com o estado emocional”
Com certeza. Durante a gestação, o corpo passa por uma verdadeira revolução hormonal. Estrogênio, progesterona, prolactina e ocitocina entram em cena em doses elevadas, preparando o corpo para gerar e nutrir uma nova vida.
Esses hormônios também afetam o humor. É comum sentir:
- Alterações de apetite e sono
- Oscilações entre alegria e choro
- Ansiedade sobre o futuro
- Medo do parto
- Sensação de vulnerabilidade
Essas emoções são esperadas — mas se forem intensas ou persistirem por muito tempo, é fundamental conversar com a equipe de saúde.
Mito 3: “Na menopausa, o sofrimento emocional é inevitável”
Não necessariamente. Menopausa não é sinônimo de sofrimento, mas pode, sim, trazer desafios.
A queda na produção de estrogênio pode provocar:
- Alterações no sono
- Redução da libido
- Secura vaginal
- Ondas de calor
- Irritabilidade e tristeza
Mas isso não precisa ser enfrentado sozinha. Há tratamentos que vão muito além da reposição hormonal: mudanças no estilo de vida, acompanhamento psicológico, atividades físicas, suporte social e estratégias naturais podem ajudar muito.
🫂 Verdade: “O atendimento acolhedor faz toda diferença”
Quando a mulher sente que está sendo ouvida, respeitada e compreendida, ela se abre para compartilhar o que sente — mesmo o que é mais difícil de verbalizar.
Um cuidado humanizado em ginecologia olha para além do exame físico. Ele reconhece que corpo, mente e emoções andam juntos, e que nem sempre o que parece “hormonal” é simples de resolver com uma pílula.
Por isso, encontrar profissionais que acolham com empatia e escuta ativa é essencial.
Mito 4: “Anticoncepcionais resolvem qualquer alteração de humor”
Nem sempre. Os anticoncepcionais podem ajudar a regular o ciclo e suavizar algumas variações hormonais, sim. Mas eles também podem aumentar a sensibilidade emocional em algumas mulheres, especialmente aquelas com histórico de depressão ou ansiedade.
Cada organismo reage de forma diferente. Por isso, nunca comece ou troque medicações por conta própria. A avaliação precisa ser personalizada.
Verdade: “Buscar ajuda é um ato de coragem — e autocuidado”
Sentir que algo não está bem emocionalmente, perceber que o humor muda com o ciclo ou que certos períodos da vida trazem mais angústia, não é motivo de vergonha.
Pelo contrário: reconhecer esses sinais e buscar ajuda é um passo importante de autocuidado.
O acompanhamento ginecológico aliado a um suporte psicológico pode trazer alívio, compreensão e ferramentas para lidar melhor com as fases difíceis.
Conclusão: o corpo fala — e merece ser escutado com respeito
O corpo feminino é um universo em constante transformação. Ciclos, fases e hormônios fazem parte dessa jornada — mas não definem quem você é.
Quando a ginecologia caminha ao lado da saúde mental, o cuidado se torna mais completo, mais sensível e mais eficaz. Porque a mulher não é só um corpo a ser tratado — ela é uma pessoa inteira a ser acolhida.
Técnica Responsável:
Dra. Samantha Ramos Toledo Pessôa – CRM-SP: 104245
Ginecologista Obstétrica e Medicina Fetal na Clínica Núcleo Mater.
Título em GO pela FEBRASGO, Certificado de Atuação em Medicina Fetal pela FEBRASGO.
Fontes:
Hospital Israelita Albert Einstein – TPM e TDPM
USP – Instituto de Psiquiatria – Saúde mental da mulher
Manual MSD – Efeitos hormonais no sistema nervoso central
Organização Mundial da Saúde – Saúde Mental e Bem-Estar das Mulheres